quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A liberdade na perspetiva de B.Espinosa

(...) Uma pedra, por exemplo, recebe de uma causa exterior que a atira uma certa quantidade de movimento e, mesmo depois de acabar o impulso provocado pela causa exterior, a pedra continuará, necessariamente, a mover-se (...). O que se verifica com a pedra é válido para toda e qualquer coisa singular independentemente da sua complexidade, na medida em que todas as coisas são necessariamente determinadas a existir e a agir de dada maneira por uma causa exterior.
Concebei agora, se o quiserdes, que a pedra enquanto se move, sabe e pensa que faz todo o esforço possível para continuar a mover-se. Visto que tem consciência do seu esforço, a pedra julgará ser livre e que a continuação do movimento ocorre porque ela quer.
Assim é a liberdade humana que todos os homens se gabam de possuir e que consiste unicamente no facto de os homens terem consciência dos seus desejos e ignorarem as causas que os determinam. Uma criança julga desejar livremente o leite. Um ébrio julga dizer, por decisão sua, aquilo que, quando voltar a estar sóbrio, quereria ter calado.
Este preconceito, sendo natural em todos os homens, dificilmente será abandonado por estes.
E, no entanto, a experiência ensina que se há coisas de que os homens são pouco capazes é de controlar os seus desejos. De facto, mesmo constatando que, perante dois desejos contrários vêem o melhor e executam o pior, continuam,entretanto, a acreditar que são livres.
B. Espinosa, Lettre a G.H.Sculler

Sem comentários:

Enviar um comentário